terça-feira, 7 de julho de 2009

tenta me entender meu camarada

hoje tentaram me explicar o significado de uma frase. ela não estava em alguma língua estranha, mas era uma frase poética.
desculpe camarada. me senti ofendido como um chofer de taxi que tem a porta do seu carro batida.
no mesmo instante parei a leitura do tal camarada e abri o livro de clarice lispector porque lembrei de algo que li no mesmo dia.
fechei a página do camarada e decidi transcrever o que tinha lido.
nunca li outra pessoa que pudesse colocar em palavras tudo o que eu sempre senti mas nunca soube definir o que era. acho que muita gente ...

Não entender

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado.Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

se você gosta do David Linch, do Thierry Trermoroux e da Celina Sodré, mas não entende muita coisa, não fique triste. É assim mesmo camarada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se mesmo assim você não entender o lance do não-entender-sentir, meu-camarada-dele... morra, uai.
Andei notando que nos bares, por aí, os mais alegrinhos são os mortos. Têm aquela pele boa de quem não tem insônia, não têm pressa de voltar pra nada, nem pra eles mesmos. Bebem e falam nada sem ressaca. Estão livres dessa fadiga de encaixar a vida na poesia e a melodia do pulso nos detalhes do dia, sabe como?

A morte é um ininteligível totalmente "entendível". Então...

R.I.P.,

meu-camarada-dele.