segunda-feira, 22 de junho de 2009

quando as estrofes embaçam








ela não era daqui. ela tinha o silêncio como companhia
e a madrugada como hora preferida para mergulhar na piscina sensual.
era nessa hora que ela escrevia.
ele dormia com suas armas. também não era daqui. dormia e sonhava. com florestas e lugares úmidos. era o que dizia.
ela bebia o mar, e naquela hora ficava mais feminina, mais ânima.
setenta e oito por cento do seu corpo era água.
ele será que dormia? ele, mexicano. um coyote talvez.
sonhava que receberia sua parte amanhã.
ela nessa hora pensava em alguém.
pensava que alguém estaria lendo aquelas canções que escrevia.
tinha o seu cigarro aceso ao lado.
ele pensava em quem o estaria procurando.
não podia fumar naquele celeiro.
precisava evitar o incêndio.
saía, fumava. depois voltava a deitar com suas armas.
dormia, sonhava com o que poderia estar acontendo.
previa o futuro. era profeta em seus sonhos.
ela era o prazer. de levantar, fazer um café e fumar na cozinha
ela tinha dúvidas e na dúvida ela dava.
mesmo em dúvida, ela dava.
o coyote do deserto tinha um trabalho sujo.
na dúvida, atirava. mesmo em dúvida atirava.
os dois na ponta dos pés. caminhando leve na madrugada.
para não acordar quem estava nos outros quartos.
famintos e curiosos.
abrindo a geladeira para pensar.
seduzidos pelos últimos momentos de escuridão.
onde nas sombras podiam ser
e respirar sem máscaras
longe daqui.
longe de si.
duas fronteiras que embaçavam
estrofes de uma canção
onde o espaço entre é suprimido.