sexta-feira, 5 de setembro de 2008

corpo estirado

Aquela hora da manhã, atrasado como todos os dias estressado depois de 30 minutos esperando ao sol escaldante eternamente o viu. Estava lá estirado ao sol como nós esperando. eternamente esperando. O mau humor das pessoas era presente como corpos que multiplicava, dobrava, triplicava a multidão. –Alguma coisa aconteceu na Brasil. lembrei de ter ouvido na noite anterior alguém dizendo que um homem se jogara da ponte. Onde estará agora? Onde estarei agora? Só sei que ele estava lá. Estático úmido da noite de chuva, ha quanto tempo? Sua cor marfim se misturava ao ocre da sarjeta, pelos colados barriga inchada. Esperava? O que? Quem?
E a multidão se multiplicava. Nem era tão cedo, as lojas de bugigangas já vendiam colares e brincos da moda, moda estranha cores e formas estranhas. O homem de terno me apontou ele. –Está dormindo na sombra. Sim havia sombra. Seria a morte luz ou sombra? Seria a morte do suicida luz ou sombra? Ambos úmidos, um dormia placidamente esperando uma vassoura e com sorte uma mortalha plástica para conter o odor de sua putrefação, o outro talvez inchado e roxo. Marfim ocre roxo, talvez esverdeado. Cores da moda. Seus corpos sem vida esperavam. o que? Suas vidas antes do fim esperavam. O que? A multidão esperava. o que?
Um gato morto na sarjeta, uma multidão que agora aliviada entrava no ônibus e esperava. o quê? Trabalhariam, e ao fim de oito horas esperariam para voltar para casa. E os dias se repetiriam. Com uma ou outra variação. Talvez no dia seguinte seria um rato ou um cachorro ou uma criança na beira da estrada, marfim ocre, e a multidão esperaria eternamente. O que?

Um comentário:

Fabrissa Valverde disse...

O que? O que?
Mais umas trocentas madrugadas conversando fiado pra zuar com a insônia e, quem sabe, a gente descobre, né?

amém...